Minha prática artística se constrói a partir de uma cosmovisão híbrida, na qual a cor não é apenas um fenômeno físico, mas uma lente através da qual investigo a realidade. A cor e suas propriedades, surgem como uma chave que desbloqueia dimensões fisicas e filosóficas, revelando discussões sobre como percebemos e interpretamos o mundo. Como uma metáfora para a percepção e a existência. No espaço cromático encontro uma sintonia entre o material e o imaterial, entre a estrutura física do mundo e a nossa experiência subjetiva dele.
Cor é luz, vibração, energia, vida. Circular como o tempo que se revela na mente e no corpo como uma forma de saber. A luz pode ser tanto uma construção visual quanto uma reflexão sobre a realidade que nos cerca. Busco dar forma ao que se escapa da percepção imediata. Nesse processo, a realidade transcende sua condição visual para se tornar uma linguagem de sentidos universais, que se expande para a dimensão em ambientes sinestésicos de ações performáticas, que ampliam a realidade e a relação entre os sentidos. Formado em Design Gráfico pela PUC-PR. Pós-Graduado em Ilustração Aplicada pela IDEP em Barcelona. Diretor criativo do APOC studio, em Curitiba, desde 2013.
+ 55 - 41 98884 8768
EXPO : Ouroboros
2022
curadoria: Isadora Mattiolli
coletiva
Adriana Tabalipa / Celestino Dimas
Eduardo Amato / Érica Storer
Eleonora Gomes / Fernanda Pompermayer
Gustavo Francesconi / Jonas Sanson
Leo Bardo / Leonardo Franco
Marita Bullmann / Miguel Thomé
Renata Silvério / Rique Silva
PF -Plataforma Flex
Curitiba - PR
pic : Andrea Maya
texto : Leo Bardo . 2021
Outros planetas outras paisagens: a fabricação do sol noturno
Então as imagens se compõem e se ordenam, e o sonhador escuta já os sons da palavra escrita.
— Gaston Bachelard
Dentro do círculo infinito muitas coisas escapam ao nosso olhar. Perguntamo-nos sobre a natureza de algo. Como o mundo veio a existir? O que há depois da morte? O que é escolhido para ser visto? O que vemos é afetado pelo o que sabemos? E se estivéssemos diante do nada? Como suportar o nada? Vastos espaços desérticos, o tempo e a visão, as sonoridades na natureza. Profusão & Ressonância.
Investigando a natureza filosoficamente, o trabalho toma forma na pintura, som, objeto, escultura e colagem. O artista realiza uma transposição deste sistema de signos com o qual o espaço em que vivemos pode ser entendido e, através da sensação e da percepção das cores — processos psicológicos — compõe novas paisagens num movimento que, intuitivamente, facilita-nos na localização de lugares por nós desconhecidos.
Ou, conhecidos somente em sonho, ajudando-nos a compreender que a paisagem existe antes de nós. Estar diante dos trabalhos é deparar-se com uma atmosfera onde elementos geométricos dialogam em formas circulares, rotundas, sóis, células e glóbulos que, através da imersão em ilhas de cor, geram emoções, exigindo do espectador um outro tipo de percepção do fluxo do tempo e do espaço — este, em Bachelard, entendido como uma construção.
Em contato com diferentes linguagens da arte, incluso a performance art, podemos observar que predominam nas atitudes do artista soluções incomuns para o uso de seus suportes e materiais. O uso do corrosivo sobre a tinta gera diferentes texturas que agem juntas num mesmo suporte. As formas circulares com intervenções químicas assemelham-se à materiais esponjosos, cruzando mais uma barreira: a do caráter usual de figura e fundo da pintura de paisagem.
A paisagem é o que não vejo. Nós vamos, e a paisagem fica como a memória monumental dos vestígios do tempo. Da água, batendo até furar. Do vento, soprando até gastar. Waste lands. Auroras austrais. A cor conversando com o silêncio. As temperaturas. O calor ali, olhando de volta para você. Então, o corpo encontra o desconhecido, tornando-se rocha ao dançar com a natureza.
CURTA : estamos Quase lá
2020
direção
Jonas Sanson e
Fernanda Pompermayer
47 Casa de Criadores
São Paulo - SP
Fashion Film : REPTILIA
EXPO : 3 Atos - Agora Estamos
2019
coletiva
Eduardo Amato / Eleonora Gomes
Gustavo Francesconi / Milena Costa
Nico / Pedro Vieira
PF - plataforma flex
Galeria Ponto de Fuga
Curitiba - PR
pic : Isabela Glock
Texto : Eduardo Amato
Afeto. Se no início fomos e no fim voltamos, hoje ficamos. Não em um lugar, mas em um estado d'alma. Um microcosmo brechtiano de legados sócio-culturais. Vamos falar aqui sobre herança - que produz algo novo no presente recorrido do passado. Onde fomos.
E se "o passado é um país estrangeiro” (Hartley, 1953) quais as lombadas que delimitam cada território? E digo aqui lombada, na tentativa de por alguns minutos não falar em muros. Queremos falar dos portões; dos caminhos. Dos caminhos que cinco artistas tomaram para chegar aqui e a partir daqui. Queremos falar sobre atravessamentos, portanto pareceu coerente partir de uma estrutura de exposição cruzada. Pois além de cruzados nossos processos, é também nossa pulsão. Aqui (ou ali), Margit L. entrega uma frase que talvez seja a chave dessa exposição: diferente de uma orquestra, estamos aqui num concerto de câmara, onde cada músico toca um pouco mais baixo para escutar o outro.
Somos os vaga-lumes viajantes do meio da noite. E aqui estamos. E ficamos. (por ahora)
Desperta América do Sul: Apresentamos uma(s) exposição(ões) de cinco artistas brasileiros, produzindo em Curitiba, em 2019. O resultado vivencial de diferentes sujeitos à escuta. Falando sobre três atos. A chegada, a estadia e a partida. E se Matisse acabou com a dança, propomos um ciclo na PF. Eleonora Gomes (Curitiba 1979) chegou aqui 2014, logo no início, comigo, Eduardo Cardoso Amato (Castro 1991). Ela excede o círculo de giz e toma o espaço, traça nele a instalação Pés. Ela convive conosco. Gustavo Francesconi (Joinville 1986) está aqui há pouco e com telas e experimentações com espuma expansiva delimita coordenadas investigativas tomadas em sua pesquisa, relacionando cor e matéria em distintos planos perceptíveis. Além de efeitos visuais, uma trilha transdisciplinar entre técnica e poética, levado por bases prática-teóricas da ciência e da semiótica. Como na escolha da espuma, que dilata seus limites para se moldar ao espaço. As cores também são cores, mas são dispositivos de observação de outras constelações fora das barreiras terrestres.
Milena Costa (Curitiba 1982) e o Pedro Vieira (São Paulo 1983) vieram nos buscar. Dirigem a Galeria Ponto de Fuga e percorrem caminhos processuais juntos. Nos mostram trabalhos realizados entre 2006 e 2019 que versam sobre a questão da latinidade. Ao longo dos anos eles vêm trabalhando desde este território cultural, geográfico, político e imaginado chamado América Latina. Produzem deslocamentos, imagens, performances, escritos e reflexões.
As lombadas viraram pontes à tempo de passar. Daqui para lá - performance de Eduardo Cardoso Amato propõe o alongamento do espaço expositivo para a Galeria Ponto de Fuga.
'24
EXPO. - PONTO DE PARTIDA
coletiva - Curadoria Edson Cardoso
AVA Galeria - Fábrica Bohering
Rio de Janeiro - RJ - nov.dez
EXPO. - LATINO CONVIDA
coletiva com estudio latino
Estudio Latino de Design
Curitiba - PR - mar.abr
'23
RESIDÊNCIA - THE ART FARM
com Antonio Cláudio Carvalho
PALM 3333 - Fazenda Das Palmeiras
São José do Barreiro - SP - set
'22
EXPO. - OUROBOROS
Coletiva - Curadoria Isadora Mattiolli
PF - Plataforma Flex
Curitiba - PR - nov.dez
EXPO. - MONUMENTOS INVOLUNTÁRIOS
Coletiva - Curadotia Yifta Peled
Contemporão em Vix
Vitória - ES - jun.set
'21
SOUND - TELEFONE SEM FIO
Performance Art com Eduardo Amato
Direção: Fernanda Pompermayer
Apoc Studio
Curitiba - PR - jul
SOUND - MOTHER TONGUE
Performance Art com Eduardo Amato
Direção: Jonas Sanson
GRACE Exhibition Space
New York - USA - abr - online
EXPO. - PROYECTO ENAJENAR
Casa Ajena - Centro Cultural de España
Juan de Salazar - Coletiva
Assunción - PAR - mar.abr
SOUND - PERFORMANCECOISA #3
Performance Art com Adriana Tabalipa . Eduardo Amato . Eleonora Gomes . Leo Bardo
Plataforma Flex - Open Source
Curitiba - PR - fev
RES. - ARTECHS WINTER RESIDENCY
Technische Universität Berlin
Berlin - GER - jan - online
'20
SOUND - PERFORMANCECOISA #2
Performance Art com Eduardo Amato . Eleonora Gomes . Erica Storer . Janete Anderman . Leo Bardo . Jonas Sanson
Plataforma Flex - Open Source
Curitiba - PR - dez
CURTA - ESTAMOS QUASE lÁ
Argumento - Atuação - Design Gráfico
47ª Casa de Criadores - Para Reptilia
São Paulo - SP - nov
PRÊMIO - MELHOR CARTAZ DE FILME
Os Herdeiros de Adriel Nizer Silva
5º Cine Tamoio - Festival de Cinema
São Gonçalo - RJ - set
SOUND - PERFORMANCECOISA #1
Performance Art com Adriana Tabalipa . Janete Anderman . Leo Bardo . Eduardo Amato . Eleonora Gomes . Fernanda Pompermayer . Jonas Sanson
Open Source - Ar Livre
Porto Amazonas - PR - set
EXPO. - MONUMENTOS INVOLUNTÁRIOS
Coletiva : performancecoisa
Contemporão
São Paulo - SP - set.out
SOUND - O OVO E A GALINHA
Performance Art com Eduardo Amato . Adriana Tabalipa . Eleonora Gomes . Fernanda Pompermayer . Jonas Sanson . Leo Bardo . Miguel Thomé Oliari
PIVÔ : Desktop Aberto
São Paulo - SP - jun
INSTALAÇÃO - VOLUME
Peso Expandido #4 - Táticas Móveis
em Arte Contemporânea - individual
Plataforma Flex
Curitiba - PR - fev
SOUND - PANO
Performance Art com Mariana Barros .
Janete Anderman . Eduardo Amato
Mostra Cadeado : Plataforma Flex
Open Source
Curitiba - PR - jan
‘19
EXPO. - 3 ATOS - agora estamos
14ª Bienal Inter. de Curitiba
Circuito Galerias
PF + Apoc + Ponto de Fuga - Coletiva
Curitiba - PR - set.out
SOUND - NATUREZA VIVA
Performance Art com Eduardo Amato
MUCANE - Museu Capixaba do Negro
Vitória - ES - ago
INSTALAÇÃO - A LEI
Mostra Guia : Plataforma Flex - Individual
Curitiba - PR - ago
SOUND - BAILE NO PALÁCIO
Performance Art com Eduardo Amato
Ocupa Cândido : Equinócio
Campinas - SP - mai
EXPO. - ENSAIO CIRCULAR
Apoc Galeria - Individual
Curitiba - PR - mar.abr
‘18
SOUND - CANÁRIOS DA MINA DE CARVÃO
Performance Art com Eduardo Amato
3º Festival Curto-Circuito
Chapecó - SC - dez
CURADORIA - KOLLEKTIVET II
Mostra Sonora : Boiler Galeria
Curitiba - PR - ago
EXPO. - BEIRADA DA SUPERFÍCIE
Coletiva - Curadoria Lilian Gasen
Boiler Galeria
Curitiba - PR - mai.jun
‘17
EXPO. - A COR DA PELE
exposição coletiva
Art Weekend - Galeria Caribé
São Paulo - SP - nov
SOUND - ENSAIOS SOBRE TRADIÇÃO
3º Ato - Pidyon Haben
Performance Art com Eduardo Amato
Galeria Andrea Rehder
São Paulo - SP - nov
SOUND - ENSAIOS SOBRE TRADIÇÃO
2º Ato - Havdalá
Performance Art com Eduardo Amato
Fábrica da Bhering
Rio de Janeiro - RJ - nov
SOUND - ENSAIOS SOBRE TRADIÇÃO
1º Ato - Shabat
Performance Art com Eduardo Amato
Soma Galeria
Curitiba - PR - nov
TRILHA - DESFILE JACU
Id-Fashion / FIEP - Performance Sonora
Curitiba - PR - set
EXPO. - MULTIPLOS
Boiler Galeria - Coletiva
Curitiba - PR - jul.ago
EXPO. - ENTRE PLANOS
Boiler Galeria - Individual
Curitiba - PR - mai.jun
‘16
EXPO. - ACERVO QUADRA
Galeria Quadra - Coletiva
Rio de Janeiro - RJ - nov.dez
EXPO. - ARTE NA FABRIKA
Goethe Institut - Coletiva
Curitiba - PR - out.nov
EXPO. - PAR.TI.CU.LAR
Galeria Lime - Individual
São Paulo - SP - ago.out
CURADORIA - KOLLEKTIVET I
Boiler Galeria - Mostra Sonora
Curitiba - PR - jul
EXPO. - CCC #1
SESC Centro - Coleitva
Curitiba - PR - jul.ago
EXPO. - SINAPSES
Boiler Galeria - Individual
Curitiba - PR - jun.jul
EXPO. - VENTOS DO SUL
Casa Diária - Coletiva
São Paulo - SP - mai.jun
LEILÃO - NAMELESS
Curitiba - PR - mar
EXPO. - INTERIORA
Galeria Mucha Tinta - Individual
Curitiba - PR - fev.abr
‘15
FEIRA - BERLINER LISTE
Berlin Kraftwerk - Coletiva
Berlin - GER - set
EXPO. - ACERVO SOMA
Soma Galeria - Coletiva
Curitiba - PR - dez.jan
INSTALAÇÃO - TRIADE
Festival Fora da Forma
Curitiba - PR - 9-12.out
EXPO. - ORIGENS
Boiler Galeria - Individual
Curitiba - PR - jun.jul
‘14
EXPO. - APOC
Wake up Colab - Individual
Curitiba - PR - ago.set
EXPO : Ensaio Circular
2019
individual
Apoc Galeria
Curitiba - PR
pic : Flávia Wolf
Mateus Trevisan
EXPO : Na Beirada da Superfície
2018
coletiva
Adriana Tabalipa / Adriele Tornesi
Felipe Scandelari / Gustavo Francesconi
Janete Anderman / Lívia Fontana
Maya Weishof / Taigo Meireles
Boiler Galeria
Curitiba - PR
pic : Fabiana Caldart
Texto : Lilian Gassen
Olhar o mundo a partir de sua superfície é entender-se como um corpo que percebe seu entorno como ‘seu lugar’ e não como uma exterioridade. O sentido de superfície mistura, por movimento contínuo de intercâmbio, ideias distantes, práticas históricas, geografias, sensações. Isso porque, paradoxalmente, a superfície das coisas pode ser uma película de separação entre aquilo que a coisa é daquilo que ela não é, como nossa pele, parte externa e visível de nossos corpos, que nos separa daquilo que não somos. A superfície pode ser algo sem profundidade, algo rasteiro, do qual pouco ou quase nada entendemos, ou percebemos. Também pode ser um lugar determinado no mundo, como a superfície dos Andes ou a superfície de um lago. Ela ainda pode ser pura ideação, uma fantasia ou projeção do espaço bidimensional. E todos esses “podem ser” da superfície perpetuam sua condição de comutação. ** A superfície destrói a linha de contorno, a divisa, e no lugar propõe a mutação do sfumato.
Em um passado de nosso tempo se dizia que “as primeiras partes da pintura são as superfícies”. *** Naquele momento, a superfície tinha um duplo sentido intercambiável; aquele relativo à aparência da exterioridade das coisas, e aquele que se refere ao plano de projeção [a janela]. Esses dois sentidos estão, portanto, submetidos à noção de representação/ficção. A imagem reconhecível dita as características das superfícies do objeto pintura como equivalente de ‘imagemcoisa’; neste caso, palavras inseparáveis por sentido e ordenamento constituído, pois aqui a imagem está antes da coisa, repousada, encobrindo-a. O reflexo na superfície do espelho é tão vívido que impede de ver o espelho. Esta é a superfície que se camufla na sedução do mundo que se replica.
Mas, se a superfície é a primeira parte da pintura, como não vê-la? Como não permitir-se levar por sua topografia? Agora, em outro passado de nosso tempo, quando a noção de fronteira era indispensável à compreensão das coisas e do mundo, a superfície ganhou espessura e se separou. Então, seu novo sentido passa a ser de “uma superfície que expressa igualmente os resultados das forças internas e externas” **** a si mesma. Perceber a imagem do mundo significa interferir nesse mundo, deixar a marca de sua mão nele. Este outro sentido de superfície contém a representação/ficção pela materialidade do fato. A imagem reconhecível está separada perceptivelmente de sua forma de fixação como itens distintos: a ‘imagem e a coisa’ ou a ‘coisa e a imagem’. O reflexo e o espelho se tornam presenças pela percepção/ação. Esta é a superfície que evidencia a rugosidade do mundo.
“O fenômeno da demolição do quadro, ou da simples negação do quadro de cavalete, e o consequente processo (...) da criação sucessiva de relevos, antiquadros, até as estruturas espaciais ou ambientais, e a formulação de objetos, (...) numa linha contínua, até a eclosão atual” ***** nos fizeram perceber o mundo como superfície. Achatadas pela literalidade dos fatos e enredadas por nossa própria ficção, construímos a ‘coisaimagem’. Nestes tempos de instantaneidade, o mundo, sua projeção no espelho, o próprio espelho e o ato de observar são e estão na superfície, coabitando. Se, por um lado, esse entendimento deixa tudo rasteiro e ordinário, por outro, “deshierarquiza”, horizontaliza as relações, nos deixa mais próximas e parecidas. Esta é a superfície que nos une. Perceber a superfície, portanto, é sentir essa pele macia e sedutora, ao mesmo tempo em que nos confrontamos com o ritmo das cicatrizes incongruentes de nossas histórias nela gravada. Esta exposição propõe essa percepção a partir da beirada e sem parapeito para nos proteger. Daqui, podemos ver alguns tipos de superfície, presentes conosco.
* SARAMAGO, José. A história como ficção, a ficção como história. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis : EDUFSC, n.27, p. 09-17, abr. de 2000.
** VIRILIO, Paul. Espaço crítico. Tradução Paulo Roberto Pires. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. pg. 13.
*** ALBERTI, Leon Battista. Da pintura. Campinas: Editora da UNICAMP, 1989. pg. 107.
**** KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1998. pg. 36.
***** OITICICA, Hélio. Esquema geral da Nova Objetividade. In: FERREIRA e COTRIM (org). Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. pg. 156.
EXPO : Entre Planos
2017
Individual
Boiler Galeria
Curitiba - PR
pic : Fabiana Caldart
Texto : Eduardo Amato
Qual foi a reação dos nossos ancestrais diante da primeira faísca ao lascar as pedras? Ou quando Einstein chegou a fórmula da teoria da relatividade? É nesse milésimo de segundo diante de um grande feito que a obra de Gustavo parece se encontrar. O trabalho não se relaciona apenas com o campo da arte. Vai muito além. Pensa teorias e experimentos científicos via estruturas sensoriais. Não há, por um lado, uma preocupação em esclarecer conceitos já estabelecidos; há entretanto uma provocação, uma insinuação do que tenderia um experimento científico no campo da arte, enquanto resultado visual. Por suposto que existe uma pesquisa de fundo, pela qual é esclarecida através da escolha de cada forma, volume e composição das obras, como se tinta fluísse nos nervos do artista.
É um trabalho preciso, como um cálculo matemático ou uma fórmula química, isento de falhas. Mas não é um trabalho automático, com regras de continuidade; em cada obra Gustavo nos oferece uma fórmula para uma nova descoberta. Os trabalhos se relacionam como estações de pesquisa em um laboratório expositivo. Se existe uma teoria de organização no caos, é dessa paleta que o artista se alimenta, pulsante e nunca inerte.
Ainda como nos grandes feitos, os acasos na obra de Gustavo dividem lugar face a metodologia, sejam como descobertas técnicas ou como respostas a questionamentos do artista. A impermanência dos materiais nos suportes utilizados respiram e se configuram como próprios sujeitos nessa rede de tantos elementos que formam a obra de arte. O lugar de suas obras não se resume ao espaço expositivo, mas reverbera e permeia por nosso subconsciente ativando campos sensoriais de até, eu diria, autoconhecimento.
Qual o papel do espectador e qual seu lugar dentro da obra?
A pintura como registro de um tempo, e do próprio tempo, torna-se um portal que vai diante ao "momento final" do artista, reflete o presente como um espelho e nos faz viajar de volta para o momento que vivemos, tornando a obra sempre contemporânea através desses infinitos fluxos de compreensão. Arrisco em dizer que quando cria, o artista prevê possíveis caminhos interpretativos por saber exatamente como e do que esta falando. Tais chaves de interpretação que nos são dadas, cedem lugar a um arquétipo crítico onde a obra é clara e sem falsas teorias subjetivas e superficiais.
Nesse sentido Gustavo produz situações pictóricas que devem ser compostas pelo espectador, interlocutor ou viajante, produzida como um negativo a ser revelado no momento de contemplação. A complexidade da obra não se desfaz com o alto grau de autonomia proposto à contemplação, ele não trabalha com "gosto pessoal, mas com todos os gostos pessoais”*. E se o conteúdo da pintura - por vezes - é invisível e seu caráter e dimensão devem ser mantidos secretos sabidos somente pelo artista**, a presente exposição é um convite à humanidade pensar em arte e sobre arte.
* Apropriação de trecho do texto do artista principense Almada Negreiros (1893 – 1970).
** A frase foi retirada da obra Secret Painting do coletivo Art & Language (1968).
CURA : Kollektivet - Mosta Sonora
2016
coletiva
Galena / R.C.C.B / kambô Music Nerds
Boiler Galeria
Curitiba - PR
pic : Gosmma
EXPO : Particular
2016
Individual
Galeria Lime
São Paulo - SP
pic : Raphael Dias
Texto : Eduardo Amato
A escolha da gravura como alicerce principal é aqui um dos pontos de partida de análise. Historicamente a gravura ocupa lugar importante como suporte para confecção de partituras musicais. Elas voltam como uma paisagem humana e particular; como uma delimitação de tempo e espaço. Não me abstenho em dizer que essas partículas pulsantes e dinâmicas ecoam através das telas e o tempo todo estamos aprendendo com a generosidade das obras.
Vou mais além e comparo a descontinuidade sonora com a unicidade de um resultado gravado no tempo, quando aparecem os materiais reflexivos proponho uma investigação íntima sobre o espelho como duplo, como superfície para a matriz - espectador. Articulo o intervalo visual desse reflexo como desdobramento de tempo. Não a visão cartesiana nem pragmática, mas uma versão fluida, diretamente e/ou involuntariamente conectada as serigrafias sem uma matriz fechada. Parecem elas frequências pulsantes, as mesmas depois ilustradas em formas circulares, em constante expansão; e isso é alguma coisa de maravilhoso e nos faz crescer dentro das suas possibilidades.
Nos materiais pendentes reconheço a especificidade da gravura e nesse deslocamento infinitas possibilidades gravadas no espaço. Ali a matriz é o próprio tempo ultrapassando uma visão que já existe nos trabalhos anteriores e questões técnicas, usando-as como instrumento para as formas de expressão. Mudam os conteúdos mas essa capacidade e receptividade de criar e continuar a surpreender fazem dessa fase vital - não existem segredos, a arte é feita aqui de experiências e constatações.
VIDEO : Teaser Expo Apoc
direção : Mateus Trevisan
2014